Schweitzer Engineering Laboratories
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À Frente do Domínio do Tempo
Engenheiro e inventor da SEL, Armando Guzman fala sobre o futuro da tecnologia de proteção de linhas no domínio do tempo
O gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da SEL, Armando Guzman-Casillas esteve no Brasil para participar do Seminário-Aula – Proteção de Linhas no Domínio do Tempo. Nascido no México, o engenheiro está na SEL desde 1993 e tem várias patentes em parceria com outros pesquisadores, inclusive com o fundador da empresa, Ed Schweitzer.
Guzman faz parte do time de profissionais que desenvolveu o primeiro relé de proteção no domínio do tempo, SEL-T400L. Em entrevista ao Interface, Guzman destacou que a tecnologia de proteção de linhas no domínio do tempo é um marco para o setor e seu futuro vai na direção de um sistema que possa detectar as faltas antes mesmo de sua ocorrência.
Interface: Pode falar um pouco sobre o histórico de quando a SEL decidiu inovar e trazer a proteção de linhas no domínio do tempo para o mercado? Como essa ideia surgiu?
Guzman: O Doutor Edmund Schweitzer (fundador da SEL) foi quem catalisou esse processo. Primeiro, nós começamos com a localização de faltas por ondas viajantes e aprendemos muito. Nos sentimos confiantes. Aprendemos que transformadores de corrente provêm sinais em que é possível ver com detalhes as ondas viajantes. O primeiro foi o SEL-411L com localização de faltas por ondas viajantes, um tremendo sucesso no mercado. E o Doutor Schweitzer continuou falando que queria seu relé de proteção de linhas no domínio do tempo e nós tivemos o apoio para fazê-lo. Estamos trabalhando há cerca de quatro anos no desenvolvimento deste relé de proteção. O SEL-T400L tem grandezas incrementais, antigamente já havia essa tecnologia, mas com fasores. Nosso equipamento inaugura isso para o domínio do tempo.
Interface: Então, foi o Doutor Schweitzer que sugeriu que a SEL tentasse criar esse equipamento?
Guzman: Não. Ele não sugeriu, ele disse: desenvolvam esse relé! (risos).
Interface: Quais são os próximos passos no estudo da proteção de linhas no domínio do tempo?
Guzman: Quero dar um panorama primeiro abordando onde estamos agora. Basicamente, nós amostramos as tensões e correntes em uma frequência na ordem de quilo-Hertz (kHz) . Com o SEL-T400L nós amostramos a cada microssegundo, em mega-Hertz (MhZ), o que possibilita usar a proteção de ondas viajantes. Esta é a primeira vez que alguém está usando ondas viajantes com os elementos TW32 e TW87 para proteção. No passado, outras empresas já anunciaram que estavam fazendo isso, mas não estavam realmente. Hoje nós começamos com uma frequência de um mega-Hertz e vamos para outra frequência de 10 quilo-Hertz. Em 10 quilo-Hertz, podemos usar elementos baseados em grandezas incrementais: o TD21 e o TD32.
No futuro, nós queremos lançar o relé SEL-T401L que além das ondas viajantes e grandezas incrementais também será similar a proteção de linhas com fasores, mas atuando no domínio do tempo. Isso nos possibilitará oferecer um backup para a proteção integrado ao relé, considerando que hoje o SEL-T400L precisa de um relé companheiro. Desta maneira, teremos um equipamento standalone (autossuficiente), que poderá ser aplicado sozinho.
Interface: É possível falar sobre o que vem depois da proteção de linhas no domínio do tempo?
Neste momento, nós ainda não sabemos. Se soubéssemos nós já estaríamos trabalhando nisso. (risos). Estou nesta área há muitos anos e recebemos constantes feedbacks. Um de nossos clientes estava usando essa tecnologia e houve um evento interessante em que os elementos de proteção operaram em um milissegundo, indicando a localização da falta de forma extremamente precisa.
Eles ficaram surpresos e nos questionaram “o que mais podemos fazer?”. É como eu me sinto. Estamos trabalhando muito na localização de faltas e o próximo passo é aprofundar o monitoramento das linhas de transmissão. Nosso equipamento tem quatro vezes a resolução dos tradicionais, o que possibilita ver fenômenos que não eram conhecidos antes. Podemos usar essa tecnologia para ver se um disjuntor está desconectado, se está abrindo corretamente e descobrir se podemos fazer algo na manutenção para prevenir esse dispositivo de falhar. Poder detectar faltas antes de ocorrerem será um divisor de águas, um marco. Antes da falta ocorrer, detectamos esses precursores, sinais de um possível defeito, providenciamos um alarme e a concessionária enviará uma equipe para checar. Originalmente, pensávamos que poderíamos fazer isso somente em linhas subterrâneas, mas por alguns eventos que identificamos em campo vimos que podemos fazer isso para linhas aéreas também o que será algo muito bom para o mercado.
Interface: É possível ir ainda mais rápido ou não faz sentido?
Guzman: Acho que o futuro dessa tecnologia realmente é prever faltas reais antes de ocorrerem. Ir mais rápido que 1 ms não é algo que estamos procurando, mas sim a capacidade de detectar faltas iminentes antes que elas se concretizem.
Interface: Você tem algum caso real de como isso tem ocorrido?
Guzman: No SEL-T400L temos o monitor de linha que mostrou alguns eventos na Índia e no México em que é possível ver essas faltas iminentes nos registros. O Monitor de Linhas do SEL-T400L tem uma visão da linha e é capaz de identificar se há um precursor, um sinal que indique um possível aparecimento de uma falta naquela localidade. Ele diz onde está a falta iminente e começa a contar e se há vários desses eventos, mais de três, ele disparará um alarme para que a equipe possa checar. Isso pode ser, por exemplo, um galho que se aproxima da linha ou um isolador que tem muita poeira e precisa de limpeza. Os registros que vimos em linhas áreas nos motivou a realizar essas pesquisas com os precursores. No momento, isso está em análise com alguns clientes e queremos inclusive fazer essa avaliação em linhas de transmissão de clientes brasileiros.
Interface: Em algum momento, todas as empresas trabalharão com relés no domínio do tempo? A SEL mudará todo o mercado
Guzman: Provavelmente sim. A SEL tem sido pioneira na implantação de diversas ideias. Fomos os primeiros a trazer para o mercado a localização de faltas por ondas viajantes e a incorporar sincrofasores ao relé de proteção, por exemplo. Nesse último caso, lembro de quando falei sobre o assunto em um evento em Spokane (EUA) e uma empresa disse que não era possível implantar sincrofasores em relés. Minha resposta foi: “o fato de vocês não saberem como fazer,não significa que não pode ser feito”. Eles ficaram realmente chateados comigo (diz, rindo). Já sabemos que algumas companhias estão tentando colocar ondas viajantes para localização de faltas em relés. Os chineses estão realmente procurando e eles já têm protótipos de proteção com ondas viajantes em universidades do país.
Fonte: Jornal Interface ed. 46